No dia 2 de agosto de 2024, a Revista Feminina de Arte Contemporânea Ser Mulher Arte publicou seis poemas de Diana Pilatti. Os poemas fazem partes dos livros Palavras Diáfanas (Patuá, 2021) e As Cinzas (Caligo, 2024).
DA CONSCIÊNCIA
I
nunca estou
além da fronteira e aqui
mente verso
anáfora – sou o lá
na cantiga ausente
quem sabe ali
quântica outra
me falto
sou o lapso
a fuga
talvez aí
descoordenada
fora do compasso
o mesmo traço
nômade de si
II
uma mulher sem nome
caminha avulsa
na retina das horas
luna cíclica
no ventre templo
no rosto partida
em suas mãos finas o silêncio
tece outra mulher sem nome
Diana Pilatti
ECOS
por um segundo
uma lágrima
é eternidade
Diana Pilatti
ARTIFÍCIOS DO SILÊNCIO
Ontem você me disse que os fogos não fazem mais barulho.
Como isso é possível?
Luzir tão intensamente vestindo só o silêncio?
Como é possível iluminar todos os horizontes,
ser noite faiscante,
sem alardear entre as nuvens?
Ontem você me disse
que os fogos
não fazem mais barulho.
Como poderia?
Subir ao céu,
alçar voo
prateando o manto retinto
sem retumbar pelas frestas do infinito?
Ontem
você disse
os fogos
não fazem barulho…
Qual ladainha, então
cantaria o velho mandarim
ao ver tão caladas estrelas fátuas
como lágrimas cadentes na face do tempo-despedida?
Ontem
você disse.
E o céu já não é o mesmo…
Então ficaremos a sós
eu você e a distância
versos silentes
na cintilância da palavra nestes olhos de constelações fugazes…
Na quietude da noite o coração corisca.
Diana Pilatti
PEQUENO POEMA SOBRE O VERBO QUE DORME
entre os retalhos da infância
o verbo dorme
sereno
como as manhãs de feriado
glauco
lúmino
como um sorriso nas fagulhas do dia
no verbo que dorme
inexisto
movimento mudo
entre as coxas deste poema
finito
Diana Pilatti
LADRA
roubei uma poesia
indefinida
molusca
pulsante
tua
seguias aflita
concentrada
no cúmulo da câmara
no juiz cristão xiita
na negra lésbica silenciada
no pentecoste escolar
na professora caída
na bala suposta-mente-perdida
no milico milício
no exemplo do Chile
no leite envenenado
no sorriso do teu filho
eu
onde todas as coisas são nada
e tudo
onde o fim dorme
e a semente reinicia
sorrateira
sim
te assumo meu crime
tenho fome
tenho sede
estou viva
elidida
roubei uma poesia
Diana Pilatti
SEU NOME
está nos meus sonhos
na lentidão dos meus enigmas
na rima translúcida
nas minhas masmorras
surge
labirinto-poético
cortina vermelha na minha anarquia
na poesia saliva-
seu nome tinto
perdido
na minha boca
rutila
Diana Pilatti
Saiba mais sobre a Revista Ser Mulher Arte clicando aqui.
Leia outros poemas de Diana Pilatti publicados na Revista Ser Mulher Arte no link.