Palavras Póstumas é poesia de estilhaçar solidão com espelho-espanto

 


Texto belíssimo da poeta Tânia Souza, sobre meu segundo livro, Palavras Póstumas, publicado na II Coleção de livros de bolso do Mulherio das Letras, em 2020.  


Na palavra puída

Esculpi meu silêncio

Meu epitáfio-socorro 

Última prece 

Ao amor estilhaço

Eu canto 


Diana Pilatti 



A coleção II Mulherio das Letras está solta no mundo. Publicado pela Editora Venas Abiertas apresenta 15 autoras, 15 olhares literários que nos enchem de alegria e esperança. Participei com o livro “Entre as rendas dos ossos e outros sonhos desabitados” vol. 15 da coleção.

A cada leitura, desvendo um universo diferente. Hoje, apresento a vocês o livro Palavras Póstumas, de Diana Pilatti. A poeta publicou em 2019, na Coleção Mulherio das Letras I, o livro Palavras Avulsas. Uma edição belíssima no qual o fazer poético, a metalinguagem e a força da poesia transbordaram das páginas.

Palavras Póstumas, vol. 5 da Coleção II é um livro não pode ser definido com uma só palavra, mas a primeira que me ocorreu foi: INTENSO. 

São poemas que carregam em seus versos e rimas, histórias não contadas, cenas assombrosas que nos espiam nas entrelinhas dos vocábulos.

Há muito do cotidiano nos poemas. A mulher, a mãe; o quarto, a cozinha, a casa.  A mesa posta, o sabor de um bolo, o rascunho de um poema amassado no chão. O futebol na tv. A água caindo no chuveiro. Um sonho rasgado. Há também as estrelas, os ponteiros do relógio, a infinidade das horas, a palavra como resistência. 

Ainda nesta publicação, as ilustrações de Eliane Fraulob reencontram a poesia do inusitado. Reconheço nestas páginas a rotina da mulher devastada pelo medo. Cerceada em sua arte, em seu brilho, entendida como objeto e posse. Todavia, tudo é muito sutil, e por isso nos espantamos a cada leitura. Talvez nem todas as pessoas reconheçam o vislumbre sombrio em cada poema. 

Para quem quiser conhecer um pouco deste conteúdo, Diana já nos havia apresentado o poema Sete Mortes, em uma edição prévia belíssima em parceria com Vini Willyan, disponível aqui

A violência pode ser física, psicológica, patrimonial. 

E tão invisível, solitária. Palavras Póstumas é poesia de estilhaçar solidão com espelho-espanto e em cada desvio que oferece, traz aroma de liberdade nas frestas das palavras. 

Não há como negar, é um livro triste. E belíssimo. Aos poetas cabe também a arte de captar ou traduzir o belo, ainda que no feio. E isso Diana o faz de forma maravilhosa.


Tânia Souza


Texto original no Facebook.

Para ler alguns poemas do livros Palavras Póstumas, clique aqui


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