Discurso de Posse na Academia Internacional Poetrix - AIP


No dia 27 de novembro de 2021, tomei posse da cadeira nĆŗmero dez da Academia Internacional Poetrix – AIP, numa cerimĆ“nia virtual reservada aos acadĆŖmicos.


Na ocasião pude ler alguns excertos do meu discurso de posso, o qual posto aqui na íntegra.


Discurso de Posse

Diana Pilatti


“Sou forƧa, energia vital e arrimo (...)

Sem mƔscara ou exibicionismo,

Vou em frente”

Denise Severgnini


Com grande alegria saĆŗdo os amigos e amigas poetas, membros da Academia Internacional Poetrix, e demais leitores que aqui chegarem.

Saúdo a poeta gaúcha, radicada na Argentina, Isiara Caruso, minha antecessora, que ocupava a cadeira número dez nesta Academia, por muito tempo representante do Movimento Internacional Poetrix na Argentina, e com a qual compartilho o amor pelo magistério e pela literatura.

Nesta data, assumo a cadeira nĆŗmero dez, que homenageia Denise Severgnini, saudosa poeta gaĆŗcha, que nos deixou no dia 9 de janeiro de 2013, aos 53 anos. TambĆ©m professora, sua escrita audaz transita por vĆ”rios gĆŖneros, da prosa ao poema, da literatura infantil Ć  erótica – cujos textos estĆ£o disponĆ­veis em diversos sites especializados em publicaƧƵes literĆ”rias e tambĆ©m em seu site pessoal na internet (link). Curiosa e apaixonada pela inovação, explorava a palavra em todas as suas possibilidades. Dela guardo um duplix, escrito em 2008, sobre o outono e seus encantos:


Magia (das folhas) / do Outono...


em tons laranjas, / colorindo a relva

num tapete outonal / as folhas caducas danƧam

fazem festa os pardais... / na mÔgica estação


Diana Pilatti / Denise Severgnini

28 de fevereiro de 2008 (link)


Sobre a poesia de Denise Severgnini, em especial o Poetrix, destaco três de que gosto muito. O primeiro, pela leveza e sinestesia, efeitos poéticos que tanto aprecio; o segundo, pelo toque amoroso e sensual, tão recorrente na obra de Severgnini; e o último, pela Lua, musa da noite branca, que tanto me encanta:


Plenitude


Ɓguas azuis correm

Som primaveril ecoa

– Ouvidos do tempo!


Denise Severgnini

01 de novembro de 2011 (link)


Afagos

 

DƔdivas em braƧos

Reconfortos no ninho

Mundo de carĆ­cias


Denise Severgnini

22 de janeiro de 2011 (link)


Ocaso


Lua despertada

Clareia noite invernal

Adormece o dia


Denise Severgnini

13 de agosto de 2010 (link)


Uma poeta de espírito livre e criativo, sem medo de provar a palavra, degustÔ-la, moldÔ-la. Nestas aventuras poéticas até as formas múltiplas do Poetrix exploramos (link). E sem ter pretensões ao saudosismo, gosto de afirmar que a Diana de hoje é resultado de todas as ousadas Dianas que fui e carrego comigo boas lembranças destes aprendizados.

Mas hoje, tomando posse na Academia Internacional Poetrix, confraternizo com todos meus amigos e amigas, escritores e escritoras, com o compromisso (po)Ʃtico de zelar e divulgar o Poetrix, pelo qual estou a cada dia mais encantada.

Nesta oportunidade, rememoro meu primeiro encontro com o gĆŖnero, por volta de 2007, lendo poetas como Kathleen Lessa, que sempre me puxava a orelha quando eu escrevia mal, MardilĆŖ Friedrich Fabre, com suas ótimas aulas sobre poesia, e a própria Denise Severgnini, com a qual volta e meia me aventurava em um duplix, todas poetas queridas que nos deixaram uma vasta obra e muita saudade. Por volta daquele tempo, tambĆ©m conheci bons amigos com os quais mantenho contato atĆ© hoje, como Carlos Vilarinho, JosĆ© de Castro e tantos outros. Foi para mim um perĆ­odo muito produtivo, mas o sonho de publicar um livro parecia distante, e minha vida literĆ”ria se resumia Ć s postagens em blogs, pĆ”ginas de escritores e redes sociais. Ɖ claro que o perfil que eu utilizava para divulgação naquela Ć©poca jĆ” nĆ£o existe mais, e muitos desses escritos se perderam nas frestas do tempo... Guardo alguns poetrix em um blog antigo (off-line) que uso como arquivo daquilo que se salvou. Relembrando esse encontro com o Poetrix, deixo aqui a leitura de trĆŖs que acredito serem das minhas primeiras experiĆŖncias com o gĆŖnero:


Poesia


chove em mim

bebo do azul celeste

broto passarinho


Diana Pilatti

26 de janeiro de 2007


Primavera


sentei Ć  sombra do ipĆŖ

vi meu sonho florescer

– tarde de setembro


Diana Pilatti

24 de marƧo de 2007

  

rosa trigueira rosa


trigo maduro

rosa desabrochada

mƔgica simbiose


Diana Pilatti

20 de maio de 2007


Mas a poesia entrou na minha vida bem antes disso. Fiz graduação em Letras por causa da Literatura. Queria ser professora, queria ser escritora, queria que as crianƧas descobrissem o mundo mĆ”gico que habita os livros que tanto me fizeram bem na juventude – um lugar de fuga, uma morada segura, mesmo que por pouco tempo, o tempo da leitura, os livros eram meu refĆŗgio da realidade sombria e indigna Ć  qual muitos brasileiros e brasileiras sempre estiveram expostos. Na graduação conheci os estudos linguĆ­sticos e segui por essa linha de pesquisa.  Fiz Mestrado em Estudos de Linguagens, com ĆŖnfase em SociolinguĆ­stica. Foram longos anos de aprendizado e conquistas. Hoje, em 2021, regresso Ć  universidade, tentando dar continuidade Ć  vida acadĆŖmica. Mas, Ć© claro que esta Ć© uma outra história para uma outra oportunidade.

Relembrar estas trajetórias literĆ”rias me inunda de grande satisfação. Ɖ muito mais que recordar as liƧƵes aprendidas, Ć© sobre respeitar as fases vividas, sobre crescimento e realizaƧƵes… E mesmo tendo ficado anos sem publicar, a poesia nunca saiu de mim, nem eu dela.

Voltei a me dedicar aos versos, em 2017, com a promessa de jamais partir da Poesia. Comecei a publicar em coletĆ¢neas, antologias e revistas literĆ”rias. Desejei estar entre aqueles que amam a poesia para poder partilhar comigo (e eu com eles) o Poema nosso de cada dia. E foi nos grupos de poetas que pude conhecer escritoras de excelĆŖncia como TĆ¢nia Souza, Vera Azevedo, ValĆ©ria Pisauro, MarĆ­lia Tavernard e tantas outras que admiro, sendo impossĆ­vel aqui nomear todas. Neste caminho, estabeleci uma meta pessoal de um livro solo por ano: o primeiro veio em 2019, Palavras Avulsas, volume 7 da I Coleção de Livros de Bolso do Mulherio das Letras, organizada pela Editora Venas Abiertas. Esta coleção esteve entre os dez mais votados no PrĆŖmio Jabuti de Literatura 2020, categoria “Inovação: Fomento Ć  Leitura”; Palavras Póstumas, publicado em 2020, tambĆ©m pela Editora Venas Abiertas na II Coleção de Livros de Bolso do Mulherio das Letras, um livro sensĆ­vel na voz de uma mulher silenciada e vĆ­tima de um relacionamento abusivo; e Palavras DiĆ”fanas, lanƧado neste ano de 2021 pela Editora PatuĆ” (link), um livro de amores, saudade e estrelas translĆŗcidas, com prefĆ”cio belĆ­ssimo de TĆ¢nia Souza e comentĆ”rios de JosĆ© de Castro, aos quais sou imensamente grata pela amizade e parceria poĆ©tica; o quarto livro estĆ” a caminho, Haicais e outros poemĆ­nimos, mais um livro de bolso que sairĆ” na próxima edição da Coleção Mulherio das Letras, coletivo no qual sigo fazendo parte.

A poesia foi minha companheira e salvadora em meio aos tempos sombrios da pandemia. O exercício da escrita nas Cirandas (produções coletivas de poetrix temÔticos), trouxe mais parcerias e oportunidades de criação. Em 2020, nasce a Mostra Poetrix, coletânea digital temÔtica, que organizo junto com o amigo poeta José de Castro, com o objetivo de divulgar o Poetrix e seus autores, que neste segundo semestre de 2021 estÔ na quarta edição (link).

Ano passado, recebi a notícia da criação da Academia Internacional Poetrix com alegria, e aproveito para parabenizar o poeta Goulart Gomes por esta iniciativa, que agrega valor e longevidade ao Poetrix. E, em setembro de 2021, pleitear uma vaga nesta Academia foi uma experiência gratificante de partilha, pois estava entre escritoras e escritores com os quais jÔ havia trabalhado anteriormente, como a poeta Dirce Carneiro, que assim como eu faz parte do Coletivo Mulherio das Letras, e os poetas André Figueira, Ronaldo Jacobina e Andréa Abdala, com os quais jÔ participara de coletâneas e antologias. Eleitos que felicito e comigo tomam posse. Hoje, inicia-se um novo capítulo na minha história com a Poesia. E não sigo só, caminhamos juntos e tenho certeza que muito podemos aprender e construir uns com os outros.

E, por fim e nĆ£o menos importante, deixo aqui minha prece Ć s Musas da Poesia que comigo seguem desde os tempos mais antigos: CalĆ­ope, que a palavra dita com sabedoria nunca se ausente da minha boca; Ɖrato, que me concedas a leveza do poema Ćŗmido de orvalho; Clio, celebre comigo a inspiração diĆ”ria e que meus versos possam ecoar nas paredes do tempo e que a Poesia jamais me falte.


Vida longa ao Poetrix!


Diana Pilatti

Cadeira 10 da AIP


O discurso também estÔ disponível no blog da Academia Internacional Poetrix, clique aqui para acessar e conhecer os demais acadêmicos.


Também é possível ler uma breve biografia minha e dos demais acadêmicos, clicando aqui.

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