Palavras Diáfanas: um convite à leitura

Mensagem da escritora e leitora Cris Lira, sobre o livro Palavras Diáfanas (Editora Patuá, 2021). O texto foi postado originalmente nas redes sociais e tomei a liberdade de transcrevê-lo aqui. 



Venho hoje contar do livro de Diana Pilatti, que é uma poeta com quem tenho a alegria de compartilhar a jornada no Mulherio. Li recentemente seu “Palavras diáfanas” (Patuá 2021) e gostei muito do mapa que a também poeta, Tânia Souza, traçou para mim com o seu prefácio. Sou uma leitora daquelas que pega o livro e o examina de um cantinho a outro: leio as orelhas, observo a ficha técnica, busco palavras de adeus (tá lá, na última página ‘a palavra úmida’, de Pilatti). Então, iniciei a jornada de mãos dadas com Tânia. Era um convite-sussurro para que eu a acompanhasse. A partir da entrada, mergulhei nas palavras de Pilatti e fui me perdendo vez e outra em um poema, para me encontrar em outro mês. Como Tânia, senti que é um livro que tem múltiplos destinatários, que como leitoras saímos a carregar as cartas do eu-lírico ao tempo “Tempo, sê estático / como o sépia dos retratos” (51), ao amado “beije-me / Órion / e beba na minha boca / todas as verdades do mundo” (70), aos objetos “no fundo da xícara / você e um gole de chuva” (86). Cartas que, como as estações, dão ritmo ao livro e aos poemas que se apresentam entre breves “no meu hiato / tua rima / mais sonora” (84) e mais longos como o que abre com uma epígrafe de Vladimir Maiakósvski (92-93). Nessa ciranda que vai se formando a partir das muitas residências as quais se dirigem os poemas e os acompanhantes que aparecem a ladear os poemas, há trechos, além do já mencionado, de Carlos Vilarinho, Júlia C. Hansen, Sara Síntique, Hilda Hilst, Anna Akhmátova, entre outros, como a dizer, eu vou, mas não vou só, caminham comigo as vozes daqueles que se renderam às palavras diáfanas antes de mim. Quem sabe você, que agora me lê, não quer se render também a elas? Deixo aqui, para aguçar os sentidos, este que marquei como o poema que me rasgou mais fundo:

hoje quis fazer um epitáfio

meu querido amigo

para toda poesia emudecida

nascida do inusitado

do fugaz

sem certidão

no estrangulamento rotineiro

sem direito à nota ou adendo

sem papel

perdida

diluída

nos vapores da memória

poesia bastarda

infiel 

sem perdão

(Pilatti, 60)



Cris Lira

abril de 2022

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