No dia 24 de julho de 2020, na Revista Literatura & Fechadura, três poemas de minha autoria.
Elísia
esse teu abraço morno
esse teu frescor de uvas verdes
teu colo
abismo
− Você não me liga mais,
não responde minhas mensagens!
se te contasse, Elísia,
sobre minhas lágrimas
sobre meu peito partido
sobre meu mar de solidão
− Por que apagou seu Face?
− Estou usando junto com e…
− Aff. Sério?
queria, Elísia, juro
te abrir tudo
mas tenho medo
t a n t o m e d o
meu peito estilhaça
Elísia, só me abraça
quente
como uma cascata no verão
tua pele cacau
teus cachos nanquim
− Você andou chorando, não foi?
engulo as palavras
só me abraça
me impregna
com tua leveza flórea
teu peito amor
retumba uma ciranda ancestral
te aperto
e sei que existo
− É só uma gripe.
Fica.
Vamos ver um filme?
o aconchego da tua axila
minha Ágora de amenas alegrias
ainda existo.
Diana Pilatti
Poema do livro Palavras Póstumas, volume 5 da II Coleção de Livros de Bolso do Mulherio das Letras, será lançado no final de 2020.
* * *
SIM
Para Juliana Silva
Eu disse sim
Retrocedi
O tiro veio direto
Vi minha amiga cair
Outro estrondo
Mais uma, logo ali
Continuei
Eu disse que sim
Tentei firmar o passo
Estou meio lenta, eu sei
Mas disse sim
Um clarão
A nuvem sobe, acho que esse foi de canhão
O estrondo me deixou meio surda
Esse zunido alto dentro do tímpano
Eu disse sim
Estilhaços no meu peito
Sangro
Aberta
Anônima
Enquanto coisa sem nome infértil
Sou mais um corpo, eu sei
Eu disse sim
Outro tiro, dessa vez veio com o nome
Ela caiu do meu lado
Mas vou carregá-la, o quanto eu conseguir
“Ninguém vai ficar pelo caminho!”
Eu disse sim
Estou vendo o sinal
O laser no meu peito
É agora? O tiro de misericórdia?
– Não.
Aguenta mais um pouco
Então, eu disse sim…
Diana Pilatti
* * *
recortes
a brisa fresca de relva
e a grama verde úmida
alinhavam-se beira-rua
sob meus pés
torpor lento e sépia
o ar tem um cheiro paz-euclásio…
enrolo meus braços na cintura magra
e aperto suavemente
a ponto de nada mais existir entre nós
pouso minha orelha na tua espinha
ouço o som da respiração suave misturar-se ao tempo-brisa
são as primeiras horas do dia
e ouro-pólen dos fios de sol riscam os pinheiros
respiro fundo
tão fundo
inerte mundo
enquanto meus cabelos -ainda longos- desfazem o vento
você faz uma curva suave no cantinho da minha bochecha…
Diana Pilatti
Poema do livro Palavras Diáfanas.
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